quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Lauro de Freitas


O município de Lauro de Freitas está incluído na Região Metropolitana de Salvador, instituída pela Lei Complementar Federal número 14, de 8 de junho de 1973. É a segunda região metropolitana mais populosa do Nordeste Brasileiro e a sexta do Brasil. Compreende os municípios de Camaçari, Candeias, Dias d'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz. A Região Metropolitana de Salvador, também conhecida como Grande Salvador, ocupa uma área de aproximadamente 3.000.000 km². Sua população foi estimada, em 2007, em quase 3.600.000 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Dentre os municípios da Região Metropolitana de Salvador, o município de Lauro de Freitas foi selecionado para nele ser constituída a amostra de falantes da área mais periférica da cidade de Salvador.
A história do município se inicia no século XVI, mais precisamente em 1552, quando o então governador-geral, Tomé de Souza, cedeu alguns lotes de terra do litoral baiano a Garcia D'Ávila. Na região, instalou-se uma missão jesuítica, que deu origem à freguesia de Santo Amaro de Ipitanga. (significado de ipitanga - águas vermelhas). A população da região era formada por um grande número de indígenas habitantes do Morro dos Pirambás. Em virtude de sua proximidade com o mar, o que favorecia o escoamento da produção agrícola, instalaram-se na região engenhos de açúcar e com eles um grande contingente de africanos. Ainda hoje é considerável o número de afro-descendentes, os quais procuram conservar os costumes africanos, em especial o candomblé.
Originalmente, Lauro de Freitas pertencia a Salvador, até que, em 1880, passou a distrito de Montenegro, atual Camaçari. Em 1932, retornou a Salvador, assim permanecendo até 1962, quando foi transformado em município. Onze anos depois, passou a integrar a Região Metropolitana de Salvador.
A região recebeu, inicialmente, o nome de freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, por ter se desenvolvido a partir da igreja matriz de Santo Amaro de Ipitanga, construída no século XVII, na parte mais alta da cidade. Em 1962, ano de sua emancipação política de Salvador, a região passou a se chamar Lauro de Freitas, em homenagem ao político baiano Lauro Farani Pereira de Freitas, candidato a governador do Estado, que faleceu em um acidente aéreo na campanha de 1950. Atualmente, há um movimento na cidade com o objetivo de devolver o antigo nome da cidade, Santo Amaro de Ipitanga, em homenagem ao seu padroeiro. Para tanto, a prefeitura vem conscientizando a população da história da cidade, para, mais tarde, realizar um plebiscito para a escolha do nome. Antes de se chamar Sto Amaro de Ipitanga, era chamada, pelos povos indigenas, os Tupinambás, de Ipitanga.
O município de Lauro de Freitas está localizado no nordeste do Estado da Bahia, na região conhecida como Litoral Norte. Possui uma pequena área, de apenas 60 km², e faz divisa, ao norte, com Camaçari, através do Rio Joanes, e Simões Filho, pelo CIA; ao sul, com Salvador, pela praia de Ipitanga; ao leste, com o Oceano Atlântico; e, ao oeste, também com Salvador. Sua população foi estimada, em 2007, em 144.492 habitantes. O município conta apenas com o distrito sede, sendo as demais localidades consideradas bairros, como Areia Branca, Buraquinho, Caixa d'Água, Caji, Centro, Ipitanga, Itinga, Jambeiro, Miragem, Portão, Vila Praiana, Vila Mares, Vida Nova e Vilas do Atlântico.
Lauro de Freitas é considerado um dos municípios mais industrializados da Bahia, ocupando o 3º lugar entre eles e possuindo uma planta industrial baseada em inúmeras "indústrias limpas". Seu comércio concentra-se na Estrada do Coco (BA-099), que corta o município e nas zonas centrais de alguns bairros.
O município é bastante marcado pela divisão social. De um lado, pessoas com alto poder aquisitivo, que trabalham e estudam em Salvador, ou na região metropolitana, e que utilizam a cidade como dormitório e/ou lugar de descanso nos fins de semana, por conta das suas belas praias. De outro lado, pessoas com baixo poder aquisitivo, que em sua maioria trabalham como empregadas domésticas ou serviços gerais em Vilas do Atlântico, bairro rico da cidade, ou em Salvador.
O maior contingente é de pessoas das faixas I e II que trabalham e buscam o sustento de suas famílias e uma melhor qualidade de vida, já a faixa III é mais reduzida, uma vez que as pessoas ao alcançarem a aposentadoria preferem voltar para suas cidades, já que encontram mais conforto e menor custo de vida. Em relação a escolaridade, sua grande maioria é de pessoas semi-analfabetas, que fizeram até a 5ª série e preferiram parar de estudar para poder trabalhar.
No segmento de turismo, o município apresenta um grande potencial. A região possui um litoral de sete quilômetros banhado pelo Oceano Atlântico, subdividido em três belas praias: Buraquinho, Praia de Ipitanga e Vilas do Atlântico. Há ainda cerca de 22 mil hectares de Mata Atlântica em Área de Proteção Ambiental, apta para o ecoturismo, e um projeto para a construção do Centro de Convenções.
No calendário de festas, destaca-se a festa de Santo Amaro de Ipitanga, o maior evento religioso local e um importante atrativo turístico, realizada entre os dias 6 e 15 de janeiro, quando ocorrem novenas, a lavagem da igreja com a presença de baianas, a procissão e a missa solene. O aniversário do município é comemorado no dia 31 de julho e ainda há espaço para a festa de São Francisco de Assis, na praia de Buraquinho, e as tradicionais lavagens dos bairros, como ocorre em Vilas do Atlântico, Portão e no Largo do Caranguejo, em Itinga.
Foi definido um perfil para a coleta de informantes no município de Lauro de Freitas, baseado nos seguintes fatores: local de nascimento, exposição à mídia e rede de relações. No que se refere ao primeiro aspecto, buscou-se selecionar pessoas provenientes do interior residentes no município há mais de 10 anos, no caso dos informantes da faixa I (25 a 35 anos), ou há mais de 15 anos para os informantes das faixas II (45 a 55 anos) e III (mais de 65 anos). Com relação, à exposição à mídia, foi observada uma certa heterogeneidade. Os informantes das faixas I e II foram classificados como possuindo uma mídia baixa, dispensando apenas 01 ou 02 horas diárias para assisitir televisão ou ouvir música. Esse quadro decorre do fato de as pessoas desta faixa, em geral, trabalharem o dia todo, sendo responsáveis pelo sustento da família. Já os informantes da faixa III, em sua maioria são aposentados e, desse modo, apresentaram uma alta exposição à mídia (4 horas ou mais expostos a um meio de comunicação, em especial a televisão). Por fim, em virtude de haver um deslocamento crescente da população, sobretudo para Salvador, estabeleceu-se que os entrevistados deveriam ter uma rede de relações dispersa, ou seja, não restrita ao bairro/região onde os mesmos residiam.
As entrevistas ocorreram entre os meses de outubro de 2007 e Julho de 2008. Inicialmente, buscavam-se concentrar as entrevistas no bairro de Itinga, uma vez que é o bairro mais populoso da cidade de Lauro de Freitas. No entanto, por conta da dificuldade em encontrar informantes, ou alguém que auxiliasse a busca neste local, a coleta concentrou-se no centro de Lauro de Freitas, buscando informantes nas escolas públicas da região, e posteriormente em outros bairros periféricos, como Portão e Vila Praiana.
A consituição do corpus foi um tanto quanto difícil. Primeiramente, para encontrar informantes que atendessem ao perfil da pesquisa. Em segundo lugar, para convencê-los a dar a entrevista. Os informantes da faixa III eram mais receptivos, conversadores, achavam importante contar a história da cidade e dos bairros e suas contribuições. Porém, os informantes da faixa I e II eram mais refratários, tinham uma preocupação a mais sobre o que podiam e o que não deviam contar, característica essa resultante da alta taxa de violência, vivida nestes bairros, e que resultou também em uma grande dificuldade na coleta de informações e na tentativa de se manter uma conversação informal.
As entrevistas foram feitas, em grande parte, com moradores dos bairros de Portão e Vila Praiana, bairros grandes de Lauro de Freitas que apresentam, dentre outras características, um número elevado de pobreza e violência. Os bairros apresentam histórias semelhantes: foram fruto de invasões e cresceram com a chegada de pessoas provenientes do interior do Estado da Bahia, que buscavam uma melhor qualidade de vida. Hoje, apesar de serem bem desenvolvidos, como Portão, que possui escolas, creches, postos de saúde, mercados etc, ainda apresentam baixo nível econômico, condições precárias de moradia e saúde, e grandes problemas, como a violência urbana e e o tráfico de drogas.
O perfil dos informantes entrevistados varia em função de sua faixa etária. Os informantes da faixa III (com mais de 65 anos), em sua maioria, chegaram no início do desenvolvimento de Lauro de Freitas, quando a cidade ainda se chamava Santo Amaro de Ipitanga, e contam que, apesar de ser um bom lugar para morar, passaram por muitas dificuldades, como falta de mercados e feiras (as pessoas tinham de ir à feira de São Joaquim, na região portuária de Salvador, para fazer compras), de transporte, de escolas, os perigos naturais como cobra, lacraia etc. Todos vieram do interior à procura de trabalho e de terra.
Os informantes da faixa II (de 45 a 55 anos) também vieram em busca de trabalho, mas, ao contrário dos da faixa III, vinham por conta de parentes (pais, maridos, irmãos etc.) que já residiam em Lauro de Freitas. São pessoas trabalhadoras, que moram no município e trabalham em Salvador, e estão sempre em busca de melhores condições de vida. E os informantes da faixa I (de 25 a 35 anos) vieram para Lauro de Freitas acompanhados de seus pais. Em sua grande maioria, vieram ainda pequenos e viram mais de perto o desenvolvimento da cidade, com a melhoria dos transportes públicos, das escolas e dos postos de saúde.
A realização das entrevistas possibilitou às pesquisadoras conhecer mais de perto a história desta cidade e deste povo: pessoas que, em busca de uma melhoria de vida, construíram uma cidade e a desenvolveram. Muitas histórias tristes foram contadas, e o principal problema apontado foi a violência urbana, que aumenta cada dia mais. Mas houve também muitas histórias alegres e engraçadas, principalmente dos mais velhos, que conhecem cada segredo da cidade. O acervo levantado, com certeza, apresenta um rico campo para os estudos linguísticos, mas também um rico campo para os estudos culturais, pois, apesar de Lauro de Freitas ainda ser uma cidade em desenvolvimento, possui um extenso e variado universo cultural.

2 comentários: